terça-feira, 16 de abril de 2013

Um coração triste

Arnaldo Jabor - O Estado de S.Paulo

A recente regulação trabalhista das empregadas domésticas tem provocado grande desconsolo em patroas peruas. Em pânico, descobriram que há 'classes sociais' e que as criaturas que limpam banheiros e fazem feijão não foram trazidas por um vento, sem endereço, sem sobrenomes, sem carteiras.

Por isso, lembrei-me de Um Coração Simples, de Flaubert, um dos maiores contos da história da literatura. Minha família também teve uma empregada perfeita, como a Felicité do conto, que durante a vida toda cuidou de uma família francesa de província como de um templo sagrado. Nossa Felicité chamava-se Hermínia. Era quase um fiapo, quase nada, pretinha, magrinha, mirrada e viera da roça como todas as empregadas da época. Achávamos que 'roça' era um lugar de onde vinham as pessoas pobres, outro país, com batatas e mandiocas, pastos de bois e empregadas que se agregavam a famílias urbanas. A 'roça' era o resto de um país de escravos libertos que continuavam escravizados por salários magros e se alojavam no quartinho perto do tanque. Hermínia trabalhava com meus avós que moravam ao lado de meus pais. Ela cozinhava, arrumava a casa, lavava, passava, com pequeno salário que guardava, pensando num futuro onde havia um enxoval e uma casinha. Viera muito mocinha; era da idade de minha mãe e minha tia e cresceu junto com elas, que casaram e tiveram filhos; ela não teve filhos nem casou, mas continuou rindo sem inveja, cuidando das crianças que não teve, a quem amava com devoção de 'mãe preta', como se nomeara. Talvez como consolo, falava sempre de um namorado que nunca ninguém viu chamado Ormezindo (lembro do nome que me fascinava e pensava: "Como será o Ormezindo?").
Ele nunca apareceu, nunca o vi. Em um fim de ano, ela o esperou para uma visita prometida. Não veio num dia, nem no outro. Até que uma prima ligou de um telefone público e ela se trancou no quartinho do quintal. Eu vi pelas frestas que ela chorava no chão, agarrada numa imagem de São Jorge, de capa vermelha, lança e dragão. Não tive coragem de entrar no quartinho, pois percebi que ela estava longe dali, chorando e falando com alguém em algum lugar da terra de onde viera. No dia seguinte, botou um vestido preto e foi à tenda espírita, de onde voltou mais calma, pois a mãe do centro lhe disse que um dia ela ia encontrar o Ormezindo de novo. Minha avó segredou-me que o Ormezindo aparecera morto na estrada de Pati do Alferes, onde se conheceram.
E a vida continuou. Todo mundo envelhecendo e só Hermínia continuava igual, como se o tempo não passasse sobre ela. Ali, sob o caramanchão do quintal, lembro de meu avô de pijama engraxando os sapatos, minha tia lavando os cabelos, minha avó regando as flores, e de mim mesmo, que ela fazia girar num corrupio que me arrancava risadas infinitas.
Sua presença atemporal me dava a sensação de que nossa vida suburbana era imutável. Hermínia era a empregada perfeita, tão diferente das criadas de mamãe, como a América, cozinheira maluca que (ela afirmava) voava até o teto, onde ficava grudada como uma lagartixa. Todas invejavam vovó com seus cabelos azuis que Hermínia tingia no quintal em uma bacia de louça. "Empregada boa é sorte..." - diziam as vizinhas.
Minha avó morreu de repente e meu avô, lentamente. Vovó deu um suspiro e finou-se; meu avô foi ficando lelé. Hermínia levava-o para passear e ele gostava de ver a estrela de néon da cervejaria Princesa, onde ele me levava sempre na infância.
Depois, ela foi morar com ele num apartamento de Copacabana, onde ele falava confusamente sobre seu passado. Consciente da memória frágil, um dia perguntou-me rindo: "A vida não tem sentido ou sou eu que estou gagá?" Ela cuidou de meu avô até o fim e me ajudou a pô-lo no caixão da Santa Casa.
Depois da morte de vovô, Hermínia foi trabalhar com minha mãe, mas não foi feliz. Minha mãe tinha caído numa progressiva depressão bipolar tendo horríveis fobias, como a cisma de que o gato do vizinho a odiava e lhe mostrava as garras ferozmente. Hermínia levou-a a um centro espírita 'linha branca' e a vidente lhe garantiu, com voz grossa de caboclo, que ninguém a perseguia, nem o gato. Não adiantou; piorou, pois mamãe acusou-a de ter parte com o Demônio do centro espírita. Hermínia aceitou a humilhação com a resignação do sofrimento pobre, aprendido entre milharais e pastos de capim-gordura.
Papai não falava quase, lendo revista na sala, de pijama, ouvindo os delírios de mamãe, pastoreada pela criada, virada em acompanhante.
Até que morreram os dois. Só ficou Hermínia, que foi morar com vagas primas em Caxias. Todo mês, eu mandava um dinheiro fixo para que cuidassem bem da minha babá já velhinha - se ela morresse, acabava a grana.
De vez em quando, ela me telefonava de Caxias. Dava para ouvir no fone o outro mundo onde ela vivia, agora no presente, com sons de rádios evangélicos, gritos de criança, latidos, ruídos de subúrbio longínquo. Sua voz soava um pouco como um anseio em busca do passado que tinha acabado. E como era estranho ouvi-la no presente, sua voz longe de nossa casa, como se ela tivesse sobrado da casa desabada, procurando meus avós! Ao telefone, sua voz ficava 'tatibitate' como se eu ainda tivesse 7 anos: "Oi, Arnaldinho, meu amorzinho?"
Até que um dia, ligou uma das primas para informar que Hermínia tinha feito a 'passagem' de noite. A 'passagem' fora muito calma: ela estava deitada na cama abraçada na estatueta de São Jorge.
Quando ela ainda era viva, de vez em quando eu mandava um táxi buscá-la. Ficava comigo no apartamento e eu a beijava muito, pois não havia assunto possível. Me tratava sempre como menino e ficava um pouco constrangida de estar na poltrona de veludo de mamãe que ela bem conhecia. De repente, se levantava e ia para a cozinha. Entrava com ar de titular diante da empregadinha e começava a lavar a louça. Eu protestava, mas ela fazia questão. Lavava pratos e copos com zelo. "Olha aqui o copo de cristal que seu avô gostava tanto...". Ouvindo os barulhos da louça, parecia mesmo que o passado tinha voltado.
(http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,um-coracao-triste-,1021509,0.htm)

Professor 24 horas

Sistemas de plantão de dúvidas na internet atraem docentes para um novo nicho de mercado, onde é possível trabalhar em casa e complementar a renda mensal.

Esclarecer as dúvidas de um aluno sem ter como usar gestos ou desenhos na lousa. Tentar entender o seu perfil e o nível de explicação necessária considerando apenas como a pergunta é formulada. Este é um desafio que um número crescente de professores está enfrentando graças aos sistemas de plantões de dúvidas via internet que vêm sendo criados recentemente. A maior vantagem para os profissionais é poder trabalhar em casa e, dependendo do caso, em horários alternativos ou horas livres.

Criado no final de 2012, o site Professores de Plantão usa a mão de obra de alunos de mestrado e doutorado de instituições de ensino, como a USP e a Unicamp, e não oferece vínculo empregatício. "É uma maneira de estes estudantes terem um ganho extra", diz Erica Lais Hoeveler, sócia do site. Ela explica que os professores recebem pelas horas trabalhadas no esclarecimento de dúvidas dos alunos e são remunerados apenas pelas perguntas que respondem.
Quando um aluno entra com uma dúvida, o sistema busca um professor especialista naquele assunto para que possa ensiná-lo. Segundo Erica, em um mês no ar, o site tem 500 alunos cadastrados e mais de mil professores. "Os educadores se inscrevem on-line também, nós conferimos as informações curriculares enviadas e então liberamos o acesso para que possam responder aos alunos", explica.
Pagamento por tempoO site tem o Facebook como ferramenta de acesso. O aluno se cadastra e compra um tempo de serviço, como funciona, por exemplo, com a telefonia pré-paga. O valor contratado pode ser utilizado para o esclarecimento de dúvidas em qualquer uma das matérias oferecidas: Matemática, Biologia, Língua Portuguesa, História, Geografia, Atualidades, Física e Química.
Erica conta que a ideia de criar o site surgiu a partir de uma situa­ção pessoal de sua sócia, Cinthia Gaban, que estava estudando Estatística para um concurso público. "Ela não conseguia resolver uma questão e também não conseguia encontrar pela internet um professor da área que pudesse esclarecer sua dúvida naquele dia", lembra. Como as duas estudavam há algum tempo uma alternativa para investir em um negócio próprio, começaram a desenvolver o projeto de um site para esclarecimento de dúvidas dos alunos online. O foco inicial são alunos do ensino fundamental II e do ensino médio, mas há um crescimento na procura entre aqueles que estão prestando vestibular e concurso. "A grande facilidade deste público é que muitos já têm cartão de crédito e não dependem de um responsável para inscrevê-los no nosso serviço", afirma Erica.
Jornada de trabalhoA empresa tem o apoio da incubadora de negócios da Telefonica/Vivo, que fez um investimento inicial de US$ 50 mil e também presta apoio ao Professores de Plantão. Outros grupos já investem em sites semelhantes, em que os alunos podem ter contato rápido com um professor, seja para ajudar em um plano de estudos, seja para esclarecer uma dúvida imediata de quem está estudando para uma prova, vestibular ou concurso. A meta é que o aluno tenha sempre o seu problema resolvido em prazos inferiores a 24 horas.
Segundo Gabriel Alexandre Costa, um dos fundadores do Professores On-line, o site atende hoje a seis escolas privadas, duas secretarias municipais de Educação e a estudantes que contratam o serviço diretamente pelo site. Ele afirma que são 50 mil alunos cadastrados no serviço de plantão de dúvidas. "Desenvolvemos a proposta do site porque muitos estudantes não podem contar com os pais para ajudar no esclarecimento de dúvidas no momento dos estudos. Eles também têm dificuldades de encontrar, mesmo na internet, ajuda específica em determinadas matérias para que possam estudar ou fazer as tarefas que foram passadas na sala de aula", explica.
Apoio específicoQuando uma escola ou prefeitura contrata o serviço, existe também a possibilidade de que o site ofereça material didático e de apoio específico para os alunos daquela instituição. O serviço é oferecido para estudantes a partir do 6o ano do ensino fundamental e é muito procurado também por quem está prestando vestibular ou concursos. Diferentemente do Professores de Plantão, o Professores On-line contrata os profissionais, que cumprem uma jornada de trabalho mensal, com um horário preferencial para o plantão. Conforme a jornada de trabalho de cada um, os professores são informados via e-mail e SMS quando uma dúvida da área de sua especialidade é postada. O prazo máximo para que a dúvida seja esclarecida é de 24 horas por contrato, mas Gabriel afirma que atualmente o tempo máximo na prática é de 6 horas. Além de ajudar a resolver exercícios e esclarecer dúvidas, os professores de Língua Portuguesa também avaliam redações e textos que são enviados pelos alunos.
Perfil profissionalO perfil de profissionais que trabalham para o site são professores jovens, com convívio no ambiente de internet, facilidade de responder de forma clara por escrito e experiência na sala de aula. "Após a contratação, eles recebem um material de treinamento e passam por um período de testes, em que suas respostas são analisadas por orientadores, só depois disso é que passam a responder diretamente aos alunos", explica Gabriel.
A professora de Língua Portuguesa Ana Lúcia Martins trabalha há um ano no Professores On-line. Segundo ela, o maior desafio do sistema de trabalho é entender pela pergunta qual é o nível de aprofundamento necessário para responder àquele aluno que apresentou a dúvida. "Os professores respondem sem saber quem é o aluno e precisam entender as necessidades deles apenas com base na maneira como a dúvida foi apresentada. Não existe uma resposta pronta, temos de nos adaptar às necessidades de quem está do outro lado", explica. Ela conta que, salvo raríssimas exceções, as perguntas apresentadas não exigem uma pesquisa específica do professor para sua resposta. "Isso é mais comum de acontecer na análise de textos escritos pelos estudantes, que podem ter um tema bastante específico que o professor não domina. Neste caso, ele precisa ter informações sobre o assunto para poder analisar melhor a qualidade do texto", exemplifica.
Ana Lúcia diz que o professor não dá nota para as redações que recebe, mas analisa como o aluno abordou o tema, a coerência, a adequação, além de apontar erros de ortografia e gramática e propor modificações que melhorem a qualidade do texto escrito. Em literatura, as principais dúvidas são relacionadas aos livros de leitura obrigatória para os vestibulares.
Língua estrangeiraA inclusão das línguas Inglesa e Espanhola é um dos diferenciais da Escola 24 Horas, dirigida pelo professor Severino Félix da Silva. O portal foi criado em 2000 com o conteúdo em textos, vídeos e exercícios interativos, como uma forma de reforço. O site também oferece áreas específicas de auxílio a professores e pais. A ideia de oferecer um plantão de esclarecimento de dúvidas fez parte do desenvolvimento do portal. Silva conta que o site contrata os professores para uma jornada de trabalho semanal e que eles são remunerados pelo tempo de trabalho independentemente de esclarecerem dúvidas dos alunos nestes horários ou não. "Em horário normal, das 7 horas às 23 horas, 90% das perguntas são respondidas em menos de 20 minutos", afirma. Ele explica que o processo de contratação é semelhante ao que é usado nas escolas e que cada disciplina tem seu coordenador. "No início, após passar por um treinamento, o professor é acompanhado em suas respostas por um colega mais experiente", diz. Todos os professores participam de duas reuniões presenciais anuais.
O professor de Física Carlos Eduardo Deodoro Rodrigues trabalha na rede pública de ensino do Rio de Janeiro e na Escola 24 Horas. Ele afirma que a experiência na internet o tem ajudado a incorporar o uso de novas tecnologias também na sala de aula, mas seu ganho profissional mais importante é o aperfeiçoamento na capacidade de traduzir sua explicação em palavras de forma clara e objetiva. "Geralmente, os alunos de uma sala de aula têm dúvidas e dificuldades semelhantes, quando trabalhamos na internet são estudantes de todo o Brasil, com uma diversidade muito maior", afirma.
(http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/190/professor-24-horas-277183-1.asp)

EU VOLTEI....

Bom meus amigos e amigas...Bom dia POVO...voltarei a atuar com meu Blog falando com vcs sobre os mais diversos assuntos. Você terá todo o direito, e dever, de opinar positivamente ou criticar severamente. Ninguém é dono da verdade. E claro...sempre é boa a contribuição de todos.